domingo, 22 de dezembro de 2013

Pathos




No colo virgem da Mãe Deusa
explode o jorro sacro da criação
Deste louco amor
que explode
e expande átomos
somos feitos
Filhos da Divina Luxúria
Ato de emancipação
em que o ímpeto criativo
da Divindade
a Vontade Primordial
foi consumada
Frutos do Divino Orgasmo
que se expande pelo
espaço/tempo afora
Paixão que transcende dimensões
capaz de explodir estrelas
e dar vida à Universos
Me espanta
que à alguns surpreenda
o fato de sermos
tão passionais.


                                                                                    (Audrei Teixeira)

domingo, 8 de dezembro de 2013

A Estrela e a Lua

Nada é mais belo que o fulgor ardente 
de uma estrela apaixonada 
em uma noite qualquer no hemisfério sul.
Mas como é possível à uma estrela iluminada
ser ofuscada pelo próprio brilho
refletido no olhar de sua amada?
E o que é o Luar senão
o desejo de nossas almas em ardor
refletidos num ser distante e gélido
que exatamente por nunca poder
ser alcançado
será eternamente cultuado?

(Audrei Teixeira)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

R$ 0,20 -O Estopim de uma nova Era- parte 2

O levante popular e espontâneo que está ocorrendo em muitas cidades do país já conquistou em várias delas a sua reivindicação inicial, a redução da tarifa do transporte público. No entanto, o povo continua na rua, afinal, motivos não faltam para protestar neste país. O Fora Feliciano, a PEC 37, o novo código florestal, os gastos excessivos com a copa do mundo, a corrupção, a falta de investimento em saúde e educação, a inflação... enfim, anos e anos de imobilismo e passividade que resultaram numa série de problemas econômicos, políticos e sociais que recentemente transbordaram com a questão da tarifa dos transportes.
Contudo, o movimento começa a ganhar um caráter assustador. A direita e a ultra direita estão tentando se apossar da mobilização popular. Na manifestação de quinta -feira, dia 20/06, os partidos de esquerda foram impedidos de erguerem suas bandeiras. Por todos os lados viam-se pessoas com bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo, cantando o hino nacional. Falou-se muito em revolução. Ótimo! Quem nunca sonhou com este dia em que a revolução estaria em pauta? Mas de qual revolução se fala? Isso é que é assustador, pois a direita está tentando tomar a frente das mobilizações com o intuito de dar um golpe. E essa história nós já vimos antes no nosso país quando a esquerda estava se organizando em torno do governo Jango por reformas de base, aí veio a direita e... Todo mundo já sabe o fim dessa história.
É fundamental que a mobilização popular continue e ela vai continuar, pois como se trata de um movimento espontâneo ninguém vai conseguir segurar. Mas para que ela tenha efeito é necessário que a esquerda se una em torno de uma bandeira comum e tome a frente do processo, pois se a esquerda não fizer isso a direita vai fazer.
É necessário ter claro que o inimigo é um só: o capitalismo, este sistema nefasto e explorador. Não vamos permitir que os capitalistas se apropriem da mobilização popular para tornar algo ruim ainda pior.
Portanto, clamamos pela união do povo e da esquerda em torno de uma bandeira transitória,de reformas básicas, rumo ao socialismo.




R$ 0,20: O estopim de uma Nova Era

Em 1968 um grupo de estudantes da Universidade de Nanterre, na França, decidiu se rebelar contra as medidas autoritárias tomada pela reitoria da Universidade. O reitor proibiu que os homens entrassem no dormitório das mulheres, da moradia estudantil. Em pouco tempo o protesto contra um regime educacional opressor se espalhou pelas demais universidades, como a Sorbonne, e foi incorporando cada vez mais reivindicações à sua pauta, em dois meses já não eram mais apenas os estudantes que protestavam e sim, operários, trabalhadores de todas as idades que exigiam nada menos que: “Tudo já”.
Em pouquíssimo tempo a manifestação dos estudantes se transformou numa greve geral que se espalhou por toda a França e depois para vários outros países, como a Bélgica, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Brasil, entre outros.
O Maio de 68 se transformou no marco de uma nova Era, causando uma enorme revolução nos costumes, influenciando novas ideias e pensamentos nas ciências sociais e políticas, colocando a liberdade como a pauta primordial do dia e deixando claro que seja qual for a reivindicação, por menor que ela pareça (só pareça, pois nada é secundário quando se trata de justiça social) a raiz é sempre uma só: Este sistema opressor e explorador chamado capitalismo.
Recentemente no Brasil vivenciamos um movimento que se assemelha em muitas coisas ao Maio de 68. Manifestações espontâneas de grupos de jovens que reivindicavam pautas específicas, como as manifestações contra o aumento da passagem dos ônibus e do metrô em São Paulo, e serviram de estopim, canalizando a revolta de toda uma geração contra a pseudo-democracia em que vivemos, onde os direitos fundamentais não são respeitados.
Logo, bandeiras como os gastos excessivos com a copa do mundo, dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação, transporte público, entre outras coisas, além de bandeiras como o “Fora Feliciano”, “abaixo a PEC 37”, entre inúmeras outras, foram agregadas ao movimento.
Em diversas capitais do país, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Vitória, Salvador, Curitiba, entre outras, estão correndo manifestações contra o aumento das tarifas dos transportes, os gastos excessivos coma copa, a corrupção, etc.
Em diversas capitais da Europa, como Londres, Paris, etc, os brasileiros que lá residem também foram às ruas em apoio às manifestações que aqui ocorrem.
Este é sem dúvida o auge da mobilização desde o fim da década de 80, momento em que o movimento operário e pela redemocratização do país estava em ascenso.
“Não é só pelos 20 centavos!”- dizem os manifestantes de São Paulo. Embora a reivindicação contra o aumento da tarifa seja muito justa ela acabou sendo o estopim de uma revolta muito maior que estava entalada na garganta do povo brasileiro nas últimas décadas.
O povo finalmente acordou. Agora é fundamental a compreensão de que todas estas bandeiras que reivindicamos têm uma única raiz, é fundamental perceber que o inimigo é um só: O capitalismo. E enquanto este não for destruído e substituído por um sistema social mais justo, livre e fraterno, nossa luta não findará.



Audrei Teixeira.





segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha: Teses sobre o conceito de História de Walter Benjamim

Walter Benjamim nos propõe um método historiográfico baseado num materialismo histórico não ortodoxo, ou seja, que não deixe de levar em consideração as questões subjetivas da humanidade, suas questões “espirituais”. Ele propõe uma fusão do materialismo com a teologia, ou seja, uma visão da história que não leve em conta apenas a “luta pelas coisas brutas e materiais”[1], as necessidades materiais não excluem as necessidades espirituais (morais, subjetivas), uma vez que matéria e espírito (entendido aqui como a alma, a subjetividade do ser) são indissociáveis.
A luta de classes é o eixo a partir do qual Benjamim analisa a história, para ele “O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”
[2], a história é vista do ponto de vista dos vencidos e somente redimida da sua exploração e opressão a humanidade poderá apropriar-se totalmente de seu passado.
Na própria luta de classes está inserida uma série de valores que não são apenas materiais, como a confiança, a coragem, o humor, a astúcia e a firmeza.
O passado não pode ser apreendido tal como ele foi, ele é apreendido do ponto de vista do presente, “o passado só se deixa fixar como imagem que relampeja irreversivelmente (...)”
[3], a história é uma releitura do passado a partir do presente. Benjamim aponta esta como mais uma diferença entre o materialismo histórico e o historicismo que enxerga o passado como uma sucessão de acontecimentos, um decorrente do outro.
Conhecer o passado é “apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”
[4], o perigo, no caso, é entregar-se as classes dominantes como seu instrumento, quando o inimigo vence este se apropria do passado, se apropria da história como uma forma de dominação. E Benjamim deixa claro que o inimigo não tem cessado de vencer, nada mais verdadeiro para quem assistiu a ascensão do nazi-fascismo.
A função do passado é também a de tirar as pessoas do conformismo.
O materialismo histórico rompe com a concepção de história que tenta compreender uma época sem levar em conta o que veio depois, esta concepção da história, o historicismo, se baseia na empatia com os vencedores, empatia esta que serve à dominação.
Os bens culturais são os despojos desta dominação, “nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie”
[5], se compreende-se a história do ponto de vista dos vencidos, pois os bens culturais não se devem apenas à habilidade de gênios mas também à exploração de milhares de anônimos.
A história é a história da barbárie e da exploração, estas não são exceção e sim a regra, é necessário “construir um conceito de história que corresponda a essa verdade”
[6], ou seja, um conceito de história do ponto de vista dos vencidos, dos excluídos, dos dominados, é necessário também criar um estado de exceção na história, este estado de exceção seria a tomada do poder pelos vencidos e o fim da exploração e da opressão, ou seja, a Revolução.
A história deve ser compreendida como uma totalidade e não como um encadeamento de acontecimentos, o anjo da história está afastado daquilo que ele encara fixamente, ele encara a história de outra perspectiva, a partir do presente.
Benjamim critica a visão progressista da História, e compreende que a história até então tem sido construída a partir dessa concepção, o progresso, contudo, não fez mais do que ruínas e se permanecer levará a humanidade à destruição.
Ele critica também os “adversários do fascismo” aos quais chama de traidores, estes adversários do fascismo são os stalinistas e seus partidos comunistas, bem como o Estado Soviético. Em 1940 já estava claro o caráter totalitário do regime soviético, e às diversas traições dos partidos comunistas. Benjamim assistiu a mais terrível: o pacto de não agressão entre a Alemanha nazista e a URSS.
Critica também a social democracia tanto por seu conformismo quanto por sua fé no progresso, a social democracia corrompeu a classe trabalhadora com sua visão positiva do progresso técnico industrial e com a sua moral do trabalho, é na moral do trabalho e na visão progressista da sociedade, e Benjamim compreende isso muito bem, que residem os princípios da tecnocracia que levam ao fascismo.
A crítica de Benjamim ao trabalho se refere também à relação depredatória deste com a natureza, à relação utilitária da natureza pela sociedade em nome do progresso técnico e da produção de mercadorias.
“O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida”
[7], sua tarefa é a de consumar sua libertação em nome das gerações passadas ao contrário do que diz a social democracia, que lhe atribui a tarefa de salvar as gerações futuras.
A história não é um tempo vazio e homogêneo, mas um tempo saturado de “agoras”, o passado é revisitado do ponto de vista do presente, a revolução é a ruptura com o continuum da história.
Benjamim também discute a questão do tempo, ele opõe o tempo do calendário, que é o tempo da história, com seus feriados e suas rememorações ao tempo do relógio que é um tempo mecânico, o tempo da opressão, da produção capitalista.
Ao contrário do historicismo que tem uma visão de história universal, que segundo Benjamim, não tem armação teórica mas se ampara na massa dos fatos, o materialismo histórico tem um princípio construtivo, ele avalia tanto o movimento de idéias quanto a imobilidade destas, o que representa um choque, uma imobilização messiânica dos acontecimentos, uma oportunidade de ruptura, de revolução.
Por fim, o tempo de agora é uma síntese de toda a história da humanidade, em que a memória dos oprimidos deve ser resgatada pelo presente.

*

Walter Benjamim traz de volta à vida o materialismo histórico quando o complementa com uma visão messiânica. Sem a teologia o materialismo não é mais que um autômato, um modelo determinista de explicação da história, que não rompe com a visão evolucionista de progresso.
O materialismo por si só (sem com isso querer negar os seus méritos e suas contribuições) subjuga o indivíduo e a humanidade a determinações econômicas, sem levar em conta que a própria economia também é uma construção cultural, já que a economia é a natureza transformada por uma comunidade de acordo com seus ritos, e seus costumes, além de suas necessidades.
Complementando o marxismo com uma visão teológica, Benjamim traz de volta o Humanismo ao marxismo, pode parecer contraditório afirmar que a partir da teologia se trata das questões humanas, mas é exatamente isso o que ocorre com esta obra de Benjamim, que propõe uma visão da história a partir das pessoas, e de um grupo determinado de pessoas, os vencidos.
Embora, esta visão determinista e progressista da história seja fruto mais dos políticos traidores que Benjamim critica, stalinistas e social-democratas, que do próprio Marx, Benjamim vai além de Marx, complementando o materialismo com o messianismo que lhe faltava.
Benjamim é inovador ao propor uma história do ponto de vista dos vencidos, isto é mais do que simplesmente lançar um olhar sobre os que ficaram excluídos dos textos da história oficial, na realidade o que ele propõe é que é uma “história vista de baixo” de fato, é trazer à luz o ponto de vista daqueles que fizeram a história com seu trabalho (escravo, servil, industrial) e seu sofrimento, e trazer à tona uma tarefa para o presente, a libertação desses vencidos da história, em nome de todos os vencidos que não tiveram seus nomes gravados em documentos e nem tiveram estátuas erguidas em seu nome.
Décadas antes de os teóricos começarem a compreender (um processo que começou mais ou menos em 1968, mas que só se consolidou após 1989) o perigo de uma visão progressista e evolucionista, Benjamim já tinha claro que o progresso, e a barbárie que é fruto deste, eram a regra na história, ele viveu para ver por qual caminho o progresso industrial e o tecnicismo levariam a humanidade: ao nazi-fascismo.
Quanto a sua visão de que o progresso levaria a humanidade à ruína, a história nos deu inúmeros exemplos do quanto ele estava (e está) correto.
Ele compreendeu muito antes de muitos os impactos deste progresso e da moral do trabalho sobre a natureza, por exemplo.
Além de servir à exploração de uma classe sobre a outra, a moral do trabalho serve também para justificar a exploração da natureza (assim como o fetichismo da mercadoria serve para justificar a moral do trabalho, trabalha-se para consumir), contudo, os altos índices de produção, fruto dos “avanços” técnicos da segunda revolução industrial, que permitiriam uma jornada de trabalho reduzida, não são utilizados com o fim de atenuar o fardo das classes trabalhadoras e sim de aumentar a extração de sua mais valia relativa e de aumentar a produção para níveis impossíveis de consumo, os impactos dessa “superprodução” na natureza estão cada vez mais nítidos hoje, Benjamim já apontava isso em 1940.
Outra contribuição importante de Benjamim é sua crítica tanto à traição stalinista, quanto ao conformismo social-democrata, o que demonstra que mesmo fazendo revisões no marxismo (o que não é um crime, como condenam os stalinistas) ele mantém sua radicalidade como revolucionário.
Isso é tão claro em sua obra, principalmente quando ele aponta o “salto dialético da revolução” como a única maneira possível de romper o contínuo da história, e de criar um estado de exceção, já que a regra é a barbárie e a exploração, frutos do progresso.
Benjamim escreve suas teses como quem escreve poesia, não podemos então cometer o erro de deixar de mencionar uma belíssima passagem da tese VII:
“Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo”.
Os monumentos da cultura são os despojos do dominador, afirma Benjamim, um monumento da cultura traz em si toda a dominação e exploração desses dominadores sobre os vencidos, uma estátua, de um “grande” imperador, vencedor, é construída com o trabalho e o sofrimento dos vencidos. Mais do que isso, a cultura dos vencedores é também uma cultura que legitima a dominação, por isso o materialista histórico, como Benjamim, não participa de sua reprodução. Sua tarefa é a de “escovar a história a contrapelo”, ou seja, caminhar no sentido contrário da história dos vencedores e construir uma história do ponto de vista dos vencidos. O presente tem um papel central para o historiador, é a partir dele que se compreende o passado, e é no “agora” que se deve romper com o contínuo da história. A revolução, portanto, é tarefa para agora, o futuro não existe e se o progresso técnico continuar caminhando em um ritmo tão acelerado, tem tudo para nunca existir.
Audrei Teixeira de Campos,
historiadora, escritora e professora.

[1] Tese IV.[2] Tese III.[3] Tese V.[4] Tese VI.[5] Tese VII.[6] Tese VIII.[7] Tese XII.


















domingo, 14 de abril de 2013

haikai nº 10

Seus olhos de mel
De brilho efusivo
Ofuscam o céu.

haikai nº7

                                                                                                   

Dia de tédio.
Uma noite de paixão
É meu remédio.

...suspenso...

Um céu escuro, a noite estrelada
Enfeitam meu verso sombrio
Corre alta a madrugada
E dentro d’alma faz frio.

Tudo é azul no universo, imenso.
Não é inverno, nem faz verão.
O espaço está suspenso
E o tempo é uma ilusão.

Penso nela e ela não está aqui
E para além do aqui nada importa.
Não há o lá, o além, o ali.
A noite é finda e a manhã nasce morta.

Penso nela e a desejo agora
E nada além do agora existe
A manhã parte, o dia vai embora
E a noite chega, de novo, mais triste.

São longos dias de dor e de pena
Não cabe neles meu pranto contido
Também não cabe em meu pobre poema
Tanta tristeza e amor reprimido.

São longas noites de reza e de choro
à todos os deuses e aos bons serafins.
Até os santos anjos em coro
Rogam que um dia ela volte pra mim.




                                                                                          Audrei Teixeira
                                                                                            17/05/2012

domingo, 7 de abril de 2013

SENSCIÊNCIA

SENSCIÊNCIA
SEM CIÊNCIA






                                                                         Audrei Teixeira

Eu vou te tomar de assalto!

Eu vou te tomar de assalto!
Como o proletariado em Paris.
Derrubar teus muros
como os jovens de Berlim
Saquear teu corpo
Sitiar a tua alma
E te cobrir de flores
Como numa primavera em Praga.
Vou erguer barricadas
e trazer à tona todo o Amor
reprimido pelo asfalto.
Vou cantar hinos
Palavras de ordem
Proclamando meu domínio sobre ti.
Vou me perder em teus braços
Para me reencontrar
um novo ser
numa nova sociedade
A Utopia
A Ilha de Lesbos
O Eldorado
Vou fazer do meu poema um grito
pelos oprimidos
Fazer do meu poema um pranto
pelos vencidos
Fazer do meu poema um canto
de louvor e adoração
ao teu Ser
Fazer deste poema um manifesto
à favor do nosso Amor.






                                                                                           Audrei Teixeira

Permanência

Por mais que o instante seja efêmero
algo que é eterno permanece em algum lugar
porque tudo o que há no Universo é pleno
e cada momento carrega em si
a centelha que permeia o Todo
o tempo todo.
Por mais que a gente viva
na ilusão do eterno agora
outros tempos, outros espaços
ocorrem simultaneamente
em universos paralelos.
Sendo assim o passado
é algo que ocorre ainda
em algum outro lugar.
E o futuro pelo qual ansiamos tanto
com a inocência da novidade
é algo que já vivenciamos
também em outros espaços.
Aliás, quem é que pode definir
quando é que termina um tempo
e começa outro?
Ou se as coisas com as quais sonhamos
que só vivenciamos na imaginação
são, de algum modo, menos reais?
Será que nós não as vivemos
em algum mundo paralelo
e ao dormir
sonhamos com este aqui?
Ou será que ambos os mundos
se complementam
e que é a nossa mente limitada
que enxerga tudo fragmentado
criando a ilusão do passado,
presente e futuro
do real e irreal?
Mas é certo que as coisas mudam.
Não é?
Mas existe um fio muito tênue
que liga todas as coisas
e todas as realidades
onde quer que elas ocorram.
Afora todas as mudanças
que transcorrem
ao longo do espaço/tempo
pelo Universo afora,
apesar da brevidade do instante
e da eterna impermanência de todas as coisas
existe algo em nossa alma imortal
que é imutável
que está sempre lá.
Essa Essência está presente
em todos os momentos
e todos os momentos
estão presentes Nela.
E é por isso que eu
te carrego dentro do peito
hoje e desde sempre,
hoje e para sempre.
Mesmo você estando tão longe,
um lugar qualquer
em um instante qualquer,
você estará sempre aqui
no eterno agora
dentro de mim.








                                                              Audrei Teixeira
                                                                (em um dia qualquer no espaço/tempo...)

Haicai nº1

Menina louca!
 O teu prazer pulsava
Na minha boca.






                                                                                           Audrei Teixeira








Evanescência

Eu sei que as coisas são efêmeras.
Mas será que precisam ser assim tão fugazes?
Ou será que o espaço/tempo está se movendo
cada vez mais rápido?
De modo que as coisas que antes nós julgávamos eternas
agora nós percebemos que não tem
mais importância alguma?






                                                                                                                       Audrei Teixeira

Deixa eu navegar nos teus braços

Deixa eu navegar nos teus braços
Flutuar no teu querer
Mergulhar nos teus passos
Me afogar no teu ser

Deixa eu transpirar nos teus sentidos
em teu corpo convexo
Suspirar nos teus gemidos
e gozar no teu sexo

Deixa eu passear na tua pele quente
Em teu âmago clandestino
Viajar no teu olhar ardente
E me perder no teu destino

Deixa eu sugar a tua língua
E sorver a tua boca
Pra eu não morrer à míngua
Dessa fantasia louca

Deixa eu viver nas tuas pernas
Reviver no teu espasmo
Ironia pós-moderna
Transcender no teu orgasmo.




                                                                                        Audrei Teixeira

sábado, 30 de março de 2013

Eu não quero uma vida Fast food!

Eu não quero uma vida fast food.
Não vou fazer amor com seu dinheiro.
A minha alma não está a venda no mercado.
meus medos não flutuam com o câmbio.


Não quero uma vida financiável.
Viver aos poucos em suaves prestações.
Fingindo orgasmos
Fingindo que sou o que não sou.

Não vou viver dando risadas falsas
Nem ocultando o choro
Reprimindo o grito
A minha fúria não é negociável.

Não vou vender meu tempo baratinho
Mais uma peça na linha de produção
Não vou deixar que me tratem como máquina
e atirem ao lixo o que ainda me resta de humano.

Meus momentos de prazer e de orgia
Minhas horas de choro e de alegria
Isto eu não vendo, não troco, não financio.
Eu só dôo, empresto, e compartilho.

Porque os juros do que não se fez
São exorbitantes
E um sonho não consumado
É impagável.

Não se quita uma dívida com a vida.
Credora implacável
ela não aceita nenhum pagamento
além de si mesma.

                                                                                                                     (Audrei Teixeira)

Se você soubesse o quanto eu te amo...

Ah! Se todas as pessoas soubessem
que o que elas tem de melhor
é essa capacidade de se perder
de se entregar totalmente
sem sair do lugar.
Ah! Se o mundo todo soubesse
Que o que há de melhor em mim
é essa necessidade de não existir
para além de ti.
Ah! Se você soubesse
que o que há de melhor em ti
é essa capacidade
de converter um gesto
num sorriso.
Se todas as pessoas soubessem
todas, você, todo mundo
soubesse intensamente,
como eu sei agora
que não é preciso saber nada.
Não. Nem é possível saber coisa alguma
e que isso pouco importa, aliás.
Porque toda a racionalidade foge ao seu lado.
e a razão se deita sob os seus pés
quando você passa
para ser esmagada
pelo seu fulgor.
E que eu,
se pudesse escolher
entre ser racional,
sábia, pretensa filósofa
e compreender
as finalidades mesquinhas dessa existência vil
jogava tudo isso na lata do lixo
e determinava
que o amor existe
apenas para ser amado
que o amor jamais pode ser questionado
e principalmente
que uma força como essa
que não pode ser compreendida
que não pode ser questionada
que não pode ser racionalizada
não poderia, jamais,
ser negada.



                                                                                                                  Audrei Teixeira
                                                                                                                     10/12/2011

A transcendência mora no seu olhar...

Eu não existo para além de ti.
Isto é algo que já tenho claro.
Mas não pense que é porque quando você passa
o seu cheira sublima todos os aromas ao redor
e a rosa
(Pobre rosa!)
Num instante deixa de ser rosa
e tem roubado o que existe de mais seu
essencialmente.
Não. Não é porque quando você passa
o céu deixa de ser céu
pois a transcendência
deixa de morar no horizonte
e passa a habitar o teu olhar.
Nem é porque o sol
perde todo o seu brilho
e vai se esconder, tímido,
no poente
para não ser ofuscado pelo brilho que
emana do teu sorriso.
Nem é porque o ar
perde a fala,
o vento perde a respiração
nem porque os pássaros
decidem que voar perdeu o sentido.
Não é porque a lua
se esconde atrás das nuvens
triste
por não poder te namorar.
Não. Não penses que roubas a beleza das coisas.
As coisas é que só existem para te servir
como pano de fundo.
O universo, papel de parede, paisagem
para tudo o que existe
Você.
As coisas só existem,
não penses que é para te dar o prazer de contemplá-las.
Não. É para dar à elas o falso prazer
de serem contempladas por você.
Sendo que na realidade
São elas que te contemplam.
É o ar que te respira.
É você que exala o perfume das rosas.
E o sol apenas reflete o brilho que emana do teu ser.
E eu só tenho consciência de que existo
porque posso ver meu sorriso
refletido no teu olhar.

                                                                                                                       (Audrei Teixeira)

Releitura

Escrever! Escrever!
Escrever até que o mundo acabe!
O mundo inteiro desabando
E o poeta ali sentado.
Coitado!
Mas,
já não lhe basta cantar as próprias dores
Quer ainda cantar as dores alheias?
Já não lhe basta viver a própria angústia,
deve ainda ele incomodar-se da misteriosa condição humana?
Da nebulosa condição humana?
Da degradante condição humana?
Mas, e quando estancar o sangue do último ferido?
E quando parar de ressoar o último estampido,
da última bala perdida
no meio de uma guerra qualquer
ou ainda em tempos de paz?
(mas se trata da pax romana?
deve ser uma releitura)
E quando calar o último grito
do fundo de um porão gelado
em um país qualquer da América?
Latina. Ou não.
E quando explodirem as últimas bombas?
Não será apenas uma releitura daquela primeira explosão?
Aquela que deu origem ao universo
E que se repete todos os dias
Na cólera convulsiva
Na voz de uma diva do jazz
No grito de um manifestante contra a guerra no Iraque
ou no Afeganistão
No gozo de um casal de amantes
Sejam eles hetero ou não.
Pouco importa.
Aquela explosão que deu origem ao primeiro instante
E que, dizem, se propaga infindamente,
dando origem ao universo
o qual, segundo consta,
ainda está em expansão desde bilhões de anos
e por bilhões de anos ainda mais.
Mas, atenham-se àquele primeiro instante!
O da explosão
Não será ele o mesmo instante em que o poeta escreve agora?
Quanto tempo dura um instante?
Os físicos não saberiam explicar
Qual a duração de um momento?
Eis uma grande questão sobre a qual se debatem filósofos
sem, no entanto, chegarem à conclusão alguma.
Eis a função do poeta.
Demonstrar a simultaneidade do tempo
Fazer ouvir o grito que já se calou,
Gritar a ferida que já se curou,
Trazer lá do fundo da alma
à zona mais clara do consciente
as maiores angústias ancestrais
E mostrar que ainda se sente o medo
que nos fez chorar na noite passada.
Aliás, que sempre se sentiu
E sempre se sentirá.
Pois tudo o que foi ainda será eternamente
Com diz a lei do eterno retorno
Mas não exatamente igual
Como uma releitura
Escrita por um poeta bêbado
Sentado no boteco mais degradado
Cercado de prostitutas,
Aliás, de uma nobreza de caráter invejável.
“Não é possível escrever poesia depois de Auschwitz” – dizia o filósofo
Pois é exatamente depois de Auschiwitz que a poesia se torna possível
E necessária
Para mostrar que auschiwitz nunca acabou e nunca acabará
Para não permitir que se esqueçam os gritos
E os gemidos.
Mas e as bombas?
E quanto às bombas,
Elas não acabarão de uma vez por todas com a humanidade?
De que vale escrever poesia então?
Isso não vai fazer diminuir o preço do pão.
Nos tornará mais livres talvez.
Ou não.
É importante lembrar que um dia existiu o amor,
Sim, existiu o amor,
Mas isso já faz muito tempo,
Foi na década de 60
Antes do vírus.
Mas ainda restam fragmentos desse amor,
em pedaços de guardanapos
e em grãos de areia escondidos sob as ruas de Paris.
E o que resta da vida senão a epígrafe?
O poema nada mais é que uma epígrafe então:
“Aqui jaz a humanidade,
Sucumbiu sobre o jugo de sua própria ganância,
Fruto de sua ignorância
E de sua inteligência,
Que é sua contraparte.
Padeceu sob a tirania de si mesma
Em que homens dominavam homens,
Dominavam mulheres
E maltratavam as crianças
Destruíram tudo o que o universo pôde criar de mais belo
Mataram suas divindades
Às quais deram vários nomes,
Mas que poderiam ter chamado somente de Natureza.
Venderam seu tempo, suas virtudes, sua dignidade,
Trocaram por um pedaço de papel
Que eles trocavam por mercadorias
Num lugar chamado mercado.
Criaram leis que restringiam sua liberdade,
coibiam os amores
e proibiam a felicidade.
Aqui jaz a humanidade.”
Eis a epígrafe,
Eis o poema.
No mesmo instante em que tudo se dissipa,
ele faz uma releitura
implacável
das ruínas ao seu redor.


                                                                                                                       (Audrei Teixeira)

A Loucura Como Ato Político

         Que os padrões ditos “normais” que regem a sociedade são utilizados como meio de manipulação e massificação dos indivíduos, roubando a sua autenticidade e enquadrando-os dentro dos propósitos do sistema social vigente, já é sabido. Contudo, é interessante e esclarecedor, antes de discutirmos o papel da “loucura” como ato de resistência, discutirmos mais acerca da dita “normalidade”.
         Segundo a definição dos dicionários normal é tudo aquilo que segue a norma, ou seja, algo que não foge às regras impostas, que não contesta, nem questiona, qualquer um que questione as normas, que fuja às suas imposições, que se rebele é, portanto, considerado, anormal.
          Nesta sociedade patriarcal, machista, heteronormativa1 e capitalista, o dito normal é aquele que expressa estas características, ou seja, o indivíduo integrado a uma família comandada por um Pai e submissa a este, um indivíduo que trabalha (e trabalha muito) e se dedica ao seu trabalho acima de qualquer outra coisa, faz deste trabalho a sua vida, sem questionar, nem contestar, vende seu tempo e seu corpo por um preço bem pequeno, produz e o lucro obtido com essa produção fica para outra pessoa (o patrão) e acha isso... normal. Mantém relações sexuais apenas com pessoas do sexo oposto, mesmo que no íntimo esta não seja a sua preferência e muitas vezes sem se questionar se é isso mesmo o que realmente o satisfaz, simplesmente porque é normal, acredita que sua cultura e sua religião (aliás, que também são construções sociais e imposições históricas ao indivíduo) são as únicas normais e que qualquer outra forma de cultura ou religião, qualquer outro grupo que desenvolva relações sociais diferentes destas, impostas ao indivíduo e que são as únicas que ele aceita, são “bárbaros” ou “inferiores”.
        Que o discurso da “normalidade” sempre serviu aos diversos regimes políticos como meio de coerção também é sabido, que, ao longo de toda a história, muitos daqueles que se opuseram às imposições de governos tirânicos, ou que se negaram a viver dentro dos padrões que a sociedade impunha, foram excluídos, enviados para “sanatórios”, mas não seria incorreto chamarmos de “prisões políticas da alma” a estes locais de prisão e de tortura para o qual eram (e ainda são) enviados nossos livres pensadores e aqueles que tentaram viver de maneira livre, sem as amarras das regras pré-estabelecidas e incontestáveis.
       Porém, não é deste tipo de “loucura” que trataremos aqui, pois para nós já está mais do que claro ao que serve o discurso da “normalidade” e a opressão que sofrem todos os que se opõem às normas pré-estabelecidas, bem como o nosso repúdio tanto à opressão, quanto às normas e a sociedade que as impõe.
       Entretanto, este pequeno texto tem por objetivo tratar de outro tipo de “loucura”, que são as neuroses geradas por esta caótica e cruel sociedade capitalista, ou simplesmente as angústias inerentes à própria condição humana, mas que no capitalismo, por não terem um espaço para serem debatidas e “trabalhadas”, muitas vezes adquirem um caráter “patológico”.
É neste sentido que defendemos que a “loucura” traz em si um caráter político, de resistência.
       As neuroses, o surto, o grito, nada mais são do que o não oprimido na garganta, entalado, o não que gostaríamos de dizer ao patrão tirânico, à professora opressora, ao ônibus lotado, ao relógio, o despertador especialmente, às humilhações e privações sofridas dia-a-dia.
       Uma máquina quando você humilha, quando você bate, quando você dá ordens e a faz executar incessantemente a mesma tarefa, milhares de vezes, sempre da mesma maneira, sem nenhuma alteração, mínima que seja, ela não reage, ela executa infinitas vezes a mesma tarefa sem se extenuar, até o esgotamento total e quando ela quebra você joga fora, sem nenhuma culpa e simplesmente a substitui por outra.
      Uma das maiores contradições do sistema capitalista é transportar esse tratamento dado às máquinas aos seres humanos, a diferença, entretanto, é que um ser - humano não é uma máquina, não é uma pedra, não é uma latinha de coca-cola, o ser humano, ao contrário, ele grita, uma hora ele berra, ele cansa, chora, de uma maneira ou de outra ele reage. Resiste.
      Seja gritando, seja pegando bolinhas no ar, ou enxergando bichos na parede, de um jeito ou de outro parece haver algo na natureza humana que o obriga a resistir, mesmo que de maneira incipiente e inconsciente, esta, sem dúvida, é uma das grandes diferenças entre os seres animados (que tem anima, alma) e os objetos inanimados, uma pedra se você chuta, ela rola, no máximo, uma pessoa não, se você chuta, ela grita, ela xinga, chora ou te chuta de novo, mas ela reage de alguma maneira.
       Deitado na cama chorando o indivíduo diz (quando tem força para dizer) –“Hoje não vou trabalhar”- o que pouca gente compreende é que algumas pessoas chegam a um ponto em que preferem morrer à enfrentar o fardo da eterna repetição diária de uma atividade inútil, sem sentido e principalmente, que não causa o mínimo prazer.
       Isso é resistência também, não uma resistência elaborada, com embasamento teórico, mas é, assim como o banditismo, uma atitude pré-revolucionária.
       O mesmo se aplica à surtos psicóticos, crises ansiosas ou de pânico. Quantos operários não desenvolvem fobia da fábrica, de seu ambiente, seu barulho, quantos professores não tem crises de pânico ao entrar numa sala de aula?
       É claro, que não se trata aqui de fazer uma apologia destas tristes patologias geradas ou agravadas pela sociedade capitalista, mas de apontar que com seres humanos a coisa funciona de uma forma diferente, não se pode impedir uma pessoa de gritar a sua ira, ou de chorar a sua dor, ao contrário das máquinas, mais cedo ou mais tarde, o indivíduo vai externalizar a sua opressão de alguma forma e nem sempre estas formas são bonitas, nem sempre elas são sãs e calculadas, muitas vezes elas saem apenas como gritos, surtos, lágrimas.
       Sem dúvidas, em outro modelo de sociedade, onde não haja a exploração de um indivíduo por outro, onde não haja opressão, machismo, nem preconceito, ainda haverá surtos, patologias, medos. Contudo, numa sociedade mais evoluída socialmente, mais sadia, será possível trabalhar melhor esses medos, as angústias naturalmente causadas pela misteriosa condição humana.                      Com o tempo livre, por exemplo, depois que o ser - humano tiver se libertado das amarras do trabalho abstrato e alienado, com o ócio criativo, as atividades artísticas, o tempo de estudo, o ser - humano sem dúvida vai poder alimentar a sua alma, dessa forma, ele será cada vez mais diferente das pedras e cada vez com menos necessidade de gritar para não esquecer disso.

Audrei Teixeira de Campos,
escritora, historiadora, professora.

1 Que impõe normas heterossexuais.