Eu vou te tomar de assalto!
Como o proletariado em Paris.
Derrubar teus muros
como os jovens de Berlim
Saquear teu corpo
Sitiar a tua alma
E te cobrir de flores
Como numa primavera em Praga.
Vou erguer barricadas
e trazer à tona todo o Amor
reprimido pelo asfalto.
Vou cantar hinos
Palavras de ordem
Proclamando meu domínio sobre ti.
Vou me perder em teus braços
Para me reencontrar
um novo ser
numa nova sociedade
A Utopia
A Ilha de Lesbos
O Eldorado
Vou fazer do meu poema um grito
pelos oprimidos
Fazer do meu poema um pranto
pelos vencidos
Fazer do meu poema um canto
de louvor e adoração
ao teu Ser
Fazer deste poema um manifesto
à favor do nosso Amor.
Audrei Teixeira
ResponderExcluirSonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido.
Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos,
Assim é que saio dos sucessivos sonos:
Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos.
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
Sumidos no sorvedouro.
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono.
Nem dormir deveras.
Pois a questão-chave é:
Sob que máscara retornará o recalcado?
A Fábrica do Poema
Adriana Calcanhotto